quarta-feira, 15 de junho de 2011

REDENÇÃO, PRIMEIRO LONGA BAIANO, TEM SESSÃO NO MOSTRA DE OURO PRETO


Programa Roberto Pires participará do principal encontro sobre preservação de memória audiovisual no Brasil

“Redenção”, dirigido por Roberto Pires e considerado o primeiro longa-metragem baiano, terá sessão no sábado (18), às 18h, no Cine Vila Rica, dentro da programação da Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP). O filme foi lançado em 1959, e foi restaurado digitalmente em 2010, sob a coordenação do Programa Memória Roberto Pires.  A Mostra tem como tema central a década de 1950, e abriga o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros, principal evento sobre preservação da memória audiovisual no Brasil.

Petrus Pires, coordenador do Programa Memória Roberto Pires e filho do cineasta, participará da Mostra e do Encontro. Para Petrus, “a sessão de Redenção dentro da CineOP é o reconhecimento do processo de preservação da memória de Roberto Pires. A restauração da obra apenas se completa com a sua exibição”.

Sobre o Encontro de Arquivos, Petrus considera que “a participação no evento é fundamental para estabelecer contatos com outros preservadores, trocar experiências, e dar continuidade ao nosso trabalho, que é garantir a preservação da obra completa de meu pai”.

Ainda esse ano, deverá ter início a restauração digital de “A Grande Feira” e “Tocaia no Asfalto”, com patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Os dois filmes, dirigidos por Roberto Pires, são fundamentais para entender o Ciclo Bahiano de Cinema, e o início do movimento Cinema Novo.

Redenção

O lançamento de “Redenção” conseguiu dar impulso aos anseios de jovens da Bahia apaixonados pelo cinema, entre eles, Glauber Rocha. A partir de então, a Bahia passa por um período de grande produção cinematográfica denominado Ciclo Bahiano de Cinema. Durante o Ciclo, Salvador chegou a ser considerada a Meca do Cinema Mundial. Com Rex Schindler e Glauber Rocha incorporados ao grupo da Iglu Filmes, deram início a produção de três longas metragens importantes para o Ciclo Bahiano de Cinema. “A Grande Feira” e “Tocaia no Asfalto”, dirigidos por Roberto Pires, além de “Barravento” que, por indicação de Pires, acabou sendo dirigido por Glauber Rocha.

Perdidamente apaixonado pela arte cinematográfica, Roberto decidiu utilizar a mais avançada tecnologia disponível no mundo para fazer o primeiro longa baiano. Na década de 50, isto era sinônimo de som magnético e lente anamórfica, mais conhecida como Cinemascope. Na Bahia da época, onde conseguir os mais simples equipamentos era uma grande dificuldade, a ideia de Roberto parecia uma loucura ainda maior do que fazer cinema.

Entretanto, Roberto Pires inventou uma lente anamórfica própria, a Igluscope, e um sistema de som, o Magmasom, para a realização de “Redenção”. O domínio das duas tecnologias chamaram a atenção da Motion Pictures, associação que reúne até hoje as principais produtoras de cinemas de Hollywood. O cineasta Orlando Senna lembra da visita de dois técnicos da associação à Bahia para conhecer os feitos de Roberto Pires.

Em uma sessão de gala, em 6 de março de 1959, no Cine Guarani, em Salvador, foi lançado Redenção, primeiro filme de longa metragem baiano. O filme teve um sucesso estrondoso e bateu recordes de bilheteria.

As cópias do filme estavam dadas como perdidas até 2005, quando uma cópia em 16mm foi localizada no Instituto Lula Ayres Cardoso, em Pernambuco. A instituição cedeu a cópia à família do diretor Roberto Pires, que iniciou um processo de restauração do filme, concluída em 2010.


Programa Memória Roberto Pires

O programa Memória Roberto Pires, responsável pela restauração, preservação e difusão da obra do cineasta, surgiu do amadurecimento de uma série de ações que vêm sendo desenvolvidas após o falecimento do diretor. O projeto começou, em 2005, quando Petrus Pires encontrou uma cópia de "Redenção", filme que era dado como perdido e encontrado no Instituto Lula Cardoso Ayres, em Pernambuco. 

Em 2006, a Iglu Filmes, fundada por Roberto Pires em 1958, é reaberta por Braga Neto, um dos sócios originais, além de Petrus Pires e Paulo Hermida. Estes dois últimos lançaram, em 2008, o documentário Artesão de Sonhos, sobre o legado do cineasta. No mesmo ano, foi fundado o Cineclube Roberto Pires, que apoia e desenvolve ações para preservação e difusão da obra do diretor. Em 2009, o jornalista Aléxis Góis publicou o livro “Roberto Pires - inventor de cinema”, durante sessão em homenagem pelos 50 anos de Redenção na Assembleia Legislativa da Bahia.

Com o apoio da Secretaria de Cultura da Bahia, em 2010, Redenção foi relançado após restauração digital durante o VI Panorama Internacional de Cinema da Bahia. 




Roberto Pires

Roberto de Castro Pires nasceu em Salvador, no dia 29 de setembro de 1934. Com 12 anos, começou a frequentar constantemente os cinemas Pax, Santo Antonio, Jandaia e Aliança, em Salvador. Nestas salas, quase sempre, eram exibidos filmes policiais. Gênero pelo qual Roberto desenvolveu um gosto especial e que lhe rendeu comparações a Hitchcock.

Para realizar o primeiro longa metragem da Bahia, Roberto decidiu utilizar a mais avançada tecnologia da época, o som magnético e a lente cinemascope. Extremamente criativo, Roberto construiu outros equipamentos utilizados em seus filmes como gruas, carrinhos, cabeças de câmara, filtros e dezenas de aparatos diversos. Fora do cinema, o cineasta se divertiria fazendo telescópios e outras invenções para os seus dez filhos e muitos netos. Autodidata, criativo e artesão, além disto, uma alma generosa, aberta e solidária, ele se dispôs a transmitir, ou melhor, dar de presente seu conhecimento e suas habilidades para outros realizadores que, no início da década de 60, começavam a fazer cinema na Bahia e no Rio de Janeiro.

Colaboração do Tiago Tao do Cineclube Roberto Pires

Nenhum comentário:

Postar um comentário