terça-feira, 5 de agosto de 2014

Justiça de São Paulo impede show de banda pernambucana


O grupo pernambucano Coisa Nostra (que antes era a banda Babi Jaques e Os Sicilianos) foi impedido por uma decisão judicial de se apresentar no fim de semana em um festival no interior de São Paulo. Tudo porque o juiz disse que a banda tocava rock e que fazia barulho (!!!). O grupo devia ter se apresentado na noite da sexta-feira passada, mas, à tarde, a prefeitura de Amparo recebeu a ordem judicial impedindo a apresentação no festival de inverno da cidade.

“Se comparados às demais apresentações musicais serão os que, sem dúvida, em razão dos ruídos provocados (…) ocasionarão maior perturbação à tranquilidade dos circunvizinhos”, diz trecho do documento, que também proibiu o show da banda Calango Brabo.

No documento o juiz de Direito da 1ª Vara de Amparo, Fernando Leonardi Campanella, afirma que foram realizados medições de ruídos em algumas residências próximas à Praça Pádua Salles, onde aconteceu o festival. Um site da região, o R1, informa que “moradores já haviam procurado o Ministério Público (MP) reclamando do barulho que as atrações provocam e até um abaixo-assinado foi elaborado e entregue ao MP. Segundo informações os moradores reclamam especificamente dos shows de rock, onde alegam que “perturbam a tranquilidade” de seus lares.”
Ontem, o grupo Coisa Nostra divulgou uma nota sobre o caso:

“É com pesar que informamos que o show da trupe Coisa Nostra (PE) no Festival de Inverno de Amparo – SP foi cancelado por meio de uma ordem judicial, devido a uma censura ao gênero Rock.

Pra quem ainda não assistiu o espetáculo, nomeado também Coisa Nostra, ele envolve várias linguagens, a música é apenas um horizonte de sua paleta de cores. O grupo propõe um trabalho com teatro, artes visuais, audiovisual, gibis e performances em geral. Seu trabalho com a música vai além de um gênero específico, pode-se encontrar tantos ritmos que os integrantes têm dificuldade em listar. Isso acontecia até mesmo quando o grupo se configurava apenas como uma banda, chamada Babi Jaques e Os Sicilianos.

Atualmente, Coisa Nostra se configura como um grupo de artistas ou um grupo de artes integradas, não há como desassociar uma linguagem da outra, está tudo conectado. O grupo propõe uma experiência estética sonora, visual e corporal. Por questões burocráticas, o Festival de Inverno enquadrou o show/espetáculo Coisa Nostra em “rock”, a partir deste direcionamento surgiram os problemas.

A ordem judicial explica que o gênero “rock” incita um barulho que ultrapassaria o limite possível, ocasionando uma poluição sonora comparada com as demais apresentações no evento. Assim, a liminar cancelou a realização de dois shows, do grupo Coisa Nostra (PE) e da Banda Calango Bravo (SP) que apresenta uma fusão de ritmos regionais brasileiros com rock. As demais apresentações previstas nos três palcos do evento, localizados inclusive na mesma praça, aconteceram sem problemas.

Além deste desconforto, ficam outras inquietações. O que é o rock? A poluição sonora ocasiona-se a partir de um gênero? O que se propõe com a realização de um festival em uma cidade? O que é a diversidade cultural?

Como bem disse a artista amparense Elisa Canola: “perdemos a chance do encontro, de pensar o contemporâneo, de viver a experiência com o outro, o diferente”. Canola participa do espetáculo por meio de um vídeo-dança com o seu personagem “Pinguço”. No dia do show, a artista também participaria do espetáculo pela primeira vez com sua performance.

Triste com o acontecimento, porém a caminhada da trupe continua com a certeza de que tal fato não a estaciona e sim, potencializa. Que venham os próximos festivais!!”
 

Rede Social
Em seu Facebook, a Banda Coisa Nostra, se mostrou indignada com tal determinação, leia o desabafo na íntegra:

COISA NOSTRA CENSURADA

No último día 1 de agosto, sexta-feira, nós que fazemos a Coisa Nostra, uma trupe mambembe de artistas, sofremos um dos mais graves atentados a nossa arte e a nossa liberdade.

Após mais de 4 horas de montagem dos nossos equipamentos e cenários para a apresentação de nosso espetáculo na cidade de Amparo, no interior de São Paulo, fomos surpreendidos com a proibição da nossa apresentação no lendário palco da Rádio Cultura, na Praça Pádua Salles, dentro da programação XIV Festival de Inverno de Amparo. O show aconteceria as 19h.

Através de um MANDADO DE AÇÃO LIMINAR/TUTELA ANTECIPADA expedida pelo Juíz de Direito da 1a Vara do Foro de Amparo, Dr. Fernando Leonardi Campanella, ficou proibido todos os shows do gênero “ROCK” no Festival. Segundo o Juíz, é sabedor que as apresentações deste gênero “…são os que mais pertubam a tranquilidade…”. Vale salientar que as demais atrações do evento se apresentaram, sem problemas, em três palcos localizados na mesma praça. Parte delas em um palco com uma estrutura de som muito maior do que aquele que abrigaria nossa apresentação.

Pra quem ainda não assistiu, o espetáculo Coisa Nostra envolve várias linguagens, a música é apenas um horizonte de sua paleta de cores. Propomos um trabalho com teatro, artes visuais, audiovisual e performances em geral. Nosso trabalho com a música vai além de um gênero específico, pode-se encontrar tantas manifestações musicais representadas neste trabalho, que fica dificil até de lista-las.

Atualmente, Coisa Nostra se configura como um grupo de artistas ou um grupo de artes integradas, não há como desassociar uma linguagem da outra, está tudo conectado. O grupo propõe uma experiência estética sonora, visual e corporal. Por questões burocráticas, o Festival enquadrou o show/espetáculo Coisa Nostra em “rock”. E independente do enquadramento que leve qualquer qualquer grupo musical, nada justifica suspender dessa maneira uma apresentação alegando o motivo de um ritmo ou estilo. Se o problema se refere a altura excessiva, esse incômodo pode ser causado por qualquer expressão sonora.

Além deste desconforto, ficam inquietações. O que é o rock? A poluição sonora ocasiona-se a partir de um gênero? O que se propõe com a realização de um festival em uma cidade? O que é a diversidade cultural? E por fim, quem foram os técnicos responsáveis por classificar que nosso espetáculo pertubariam mais a tranquilidade alheia?
 
Comentários do blog:
O cineclube Mocamba é solidário a Coisa Nostra. Apoiamos, sim, a expressão livre da cultura brasileira. Infelizmente, nos dias de hoje, ainda nos deparamos com atitudes arbitrária, apoiadas pelo judiciário, no sentido de impedir a livre expressão da cultura em nosso país. Vivemos numa sociedade hipócrita onde a vontade da minoria sobressai sobre a maioria. Onde o padrão estético e de comportamento é definido pela televisão. Onde a cultura é enlatada igual sardinha.
 
Viva a cultura popular!
Viva ao poeta!
Viva ao músico!
Viva a alegria!
Viva ao rock nacional!
Viva a livre expressão da cultura!
Viva a criação!
 
Vamos que vamos...não deixem a peteca cair. Estamos com vcs, sempre. Quando vamos ter o privilégio de assistir vcs novamente aqui na Bahia? vamos agendar urgentemente pra tirar essa zica.
 
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