terça-feira, 9 de agosto de 2011

Mario Filho o Criador das Multidões direção Oscar Maron




Mario Filho, o inventor da alma carioca
17/06/2011 - 00:33
Não sou fanática por futebol, pelo contrário, mesmo vindo de uma família de homens, três irmãos, muitos primos, e meu pai, o responsável por eu ser eternamente atleticana, este time não conseguiu me convencer a assistir a uma partida inteira. Mas confesso que adoro a mitologia deste universo, quando fui a estádios, observei muito mais a torcida que a partida que se desenrolava no gramado. Acho riquíssimo o tom apaixonado que cerca a grande e a pequena área, aqueles que ainda empunham um radinho nos estádios, as fantasias e tudo que gira no imaginário da bola.
Marquei entrevista com o Oscar Maron, diretor do documentário Mario Filho - O criador das multidões, para o nosso programa sobre futebol. O Antonio Leal, organizador do Cinefoot, já tinha me alertado que o Maron renderia uma bela entrevista, bom sinal.
Até então, o Mario Filho para mim era simplesmente o cara que dá nome ao Maracanã e o irmão do Nelson Rodrigues, e ponto. Mas na minha pesquisa para a entrevista, tomei consciência da minha doce ignorância, fui descobrindo, à medida que lia que o Mario Filho não era apenas um criador de multidões, o que já não é pouco, diga-se de passagem, ele é também o inventor da alma carioca, no que tange o dueto samba e futebol, além de ter inventado a crônica esportiva como ela é hoje, e isso, definitivamente é muita coisa.
Mas voltando ao Maron, fomos nós para a casa dele no Leblon, chegamos lá e ele logo me avisou que não funcionava muito bem pela manhã, respondi que somos iguais - que bom, empatamos.
Enquanto montávamos o quadro da entrevista, vi uma foto emoldurada, onde estava um time de primeira da vanguarda brasileira, de pé, Julio Bressane, o próprio Maron, Antonio Cícero e outros, e sentados ao centro, Augusto de Campos e Caetano Veloso. Elogiei o time, e acabamos falando de outros craques de quem gostamos igualmente, mais um empate, bom resultado no caso desta partida.
Começamos a falar do Mario Filho, e o Maron foi narrando como este nome fundamental da cultura brasileira tem importância maior do que sonhamos pensar. Foi ele, por exemplo, quem tirou o futebol do cenário de cartolas e fraques das elites, onde o esporte habitava. Não havia narração dos jogos quando Mário Filho, vindo do Recife, começou a criar o que viria a ser o jornalismo esportivo. Sentado nas arquibancadas bem freqüentadas do Campo das Laranjeiras ou nas mesas dos bares e cafés, ele começou a roubar dos torcedores as expressões que imortalizou, criando assim uma crônica, um linguajar para o futebol, que transformaria definitivamente o esporte.
A paixão e a irreverência dos torcedores foram incorporadas pela crônica de Mário, que transportou a fala das ruas para os jornais de esporte que criou e trabalhou, fazendo do futebol uma paixão absolutamente popular. Na época ele promovia concursos entre as torcidas e também, entre as escolas de samba, movendo assim o alicerce da nossa cultura em direção às massas, ao popular, ao Brasil verdadeiro.
Maron trabalhou durante muito tempo nos Cine Jornais do Canal 100 e também fez coberturas esportivas, ele contou o que mudou e como o futebol hoje caminha em uma outra direção, talvez menos popular do que desejava Mário Filho.
Falamos também da importância que o livro O negro no futebol brasileiro, escrito por Mário, tem para a cultura brasileira: “É o casa grande e senzala urbano”, divagou Maron, concordo com ele, na medida em que pode ser considerado um tratado sociológico da nossa sociedade urbana, bipartida pelas leis do capital, mas absolutamente integrada pelas dos gramados.
No final da entrevista assistimos a trechos do documentário, em uma jogada de mestre, ele misturou na edição a ginga do samba de um Brasil em preto e branco com os dribles de um Maracanã rubro negro. Confesso que não gosto do Flamengo nem para agradar ao meu marido, mas quase me converti ao time pelo gol de placa que o Maron conseguiu no filme, com belas imagens do acervo dos cinejornais da Atlântida.
Saí da entrevista pensando o que o Mário Filho acharia do estádio que leva seu nome, que lhe custou uma longa briga com Carlos Lacerda para que o campo ficasse no bairro do Maracanã e não em Jacarepaguá como queria o então governador. O que seria para ele o Maracanã sem a geral e sem a multidão que ele tanto amava? Não sei... Eu particularmente, que vejo na torcida o maior espetáculo da bola, fico com saudades de um Maracanã que não conheci.
Beijos,
Roberta Canuto
* Foto de Oscar Maron (Fernando Maia / Agência O Globo)

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