Programa Roberto Pires participará do principal encontro sobre preservação de memória audiovisual no Brasil
“Redenção”, dirigido por Roberto Pires e considerado o primeiro longa-metragem baiano, terá sessão no sábado (18), às 18h, no Cine Vila Rica, dentro da programação da Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP). O filme foi lançado em 1959, e foi restaurado digitalmente em 2010, sob a coordenação do Programa Memória Roberto Pires. A Mostra tem como tema central a década de 1950, e abriga o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros, principal evento sobre preservação da memória audiovisual no Brasil.
Petrus Pires, coordenador do Programa Memória Roberto Pires e filho do cineasta, participará da Mostra e do Encontro. Para Petrus, “a sessão de Redenção dentro da CineOP é o reconhecimento do processo de preservação da memória de Roberto Pires. A restauração da obra apenas se completa com a sua exibição”.
Sobre o Encontro de Arquivos, Petrus considera que “a participação no evento é fundamental para estabelecer contatos com outros preservadores, trocar experiências, e dar continuidade ao nosso trabalho, que é garantir a preservação da obra completa de meu pai”.
Ainda esse ano, deverá ter início a restauração digital de “A Grande Feira” e “Tocaia no Asfalto”, com patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Os dois filmes, dirigidos por Roberto Pires, são fundamentais para entender o Ciclo Bahiano de Cinema, e o início do movimento Cinema Novo.
Redenção
O lançamento de “Redenção” conseguiu dar impulso aos anseios de jovens da Bahia apaixonados pelo cinema, entre eles, Glauber Rocha. A partir de então, a Bahia passa por um período de grande produção cinematográfica denominado Ciclo Bahiano de Cinema. Durante o Ciclo, Salvador chegou a ser considerada a Meca do Cinema Mundial. Com Rex Schindler e Glauber Rocha incorporados ao grupo da Iglu Filmes, deram início a produção de três longas metragens importantes para o Ciclo Bahiano de Cinema. “A Grande Feira” e “Tocaia no Asfalto”, dirigidos por Roberto Pires, além de “Barravento” que, por indicação de Pires, acabou sendo dirigido por Glauber Rocha.
Perdidamente apaixonado pela arte cinematográfica, Roberto decidiu utilizar a mais avançada tecnologia disponível no mundo para fazer o primeiro longa baiano. Na década de 50, isto era sinônimo de som magnético e lente anamórfica, mais conhecida como Cinemascope. Na Bahia da época, onde conseguir os mais simples equipamentos era uma grande dificuldade, a ideia de Roberto parecia uma loucura ainda maior do que fazer cinema.
Entretanto, Roberto Pires inventou uma lente anamórfica própria, a Igluscope, e um sistema de som, o Magmasom, para a realização de “Redenção”. O domínio das duas tecnologias chamaram a atenção da Motion Pictures, associação que reúne até hoje as principais produtoras de cinemas de Hollywood. O cineasta Orlando Senna lembra da visita de dois técnicos da associação à Bahia para conhecer os feitos de Roberto Pires.
Em uma sessão de gala, em 6 de março de 1959, no Cine Guarani, em Salvador, foi lançado Redenção, primeiro filme de longa metragem baiano. O filme teve um sucesso estrondoso e bateu recordes de bilheteria.
As cópias do filme estavam dadas como perdidas até 2005, quando uma cópia em 16mm foi localizada no Instituto Lula Ayres Cardoso, em Pernambuco. A instituição cedeu a cópia à família do diretor Roberto Pires, que iniciou um processo de restauração do filme, concluída em 2010.
Programa Memória Roberto Pires
O programa Memória Roberto Pires, responsável pela restauração, preservação e difusão da obra do cineasta, surgiu do amadurecimento de uma série de ações que vêm sendo desenvolvidas após o falecimento do diretor. O projeto começou, em 2005, quando Petrus Pires encontrou uma cópia de "Redenção", filme que era dado como perdido e encontrado no Instituto Lula Cardoso Ayres, em Pernambuco.
Em 2006, a Iglu Filmes, fundada por Roberto Pires em 1958, é reaberta por Braga Neto, um dos sócios originais, além de Petrus Pires e Paulo Hermida. Estes dois últimos lançaram, em 2008, o documentário Artesão de Sonhos, sobre o legado do cineasta. No mesmo ano, foi fundado o Cineclube Roberto Pires, que apoia e desenvolve ações para preservação e difusão da obra do diretor. Em 2009, o jornalista Aléxis Góis publicou o livro “Roberto Pires - inventor de cinema”, durante sessão em homenagem pelos 50 anos de Redenção na Assembleia Legislativa da Bahia.
Com o apoio da Secretaria de Cultura da Bahia, em 2010, Redenção foi relançado após restauração digital durante o VI Panorama Internacional de Cinema da Bahia.
Roberto Pires
Roberto de Castro Pires nasceu em Salvador, no dia 29 de setembro de 1934. Com 12 anos, começou a frequentar constantemente os cinemas Pax, Santo Antonio, Jandaia e Aliança, em Salvador. Nestas salas, quase sempre, eram exibidos filmes policiais. Gênero pelo qual Roberto desenvolveu um gosto especial e que lhe rendeu comparações a Hitchcock.
Para realizar o primeiro longa metragem da Bahia, Roberto decidiu utilizar a mais avançada tecnologia da época, o som magnético e a lente cinemascope. Extremamente criativo, Roberto construiu outros equipamentos utilizados em seus filmes como gruas, carrinhos, cabeças de câmara, filtros e dezenas de aparatos diversos. Fora do cinema, o cineasta se divertiria fazendo telescópios e outras invenções para os seus dez filhos e muitos netos. Autodidata, criativo e artesão, além disto, uma alma generosa, aberta e solidária, ele se dispôs a transmitir, ou melhor, dar de presente seu conhecimento e suas habilidades para outros realizadores que, no início da década de 60, começavam a fazer cinema na Bahia e no Rio de Janeiro.
Colaboração do Tiago Tao do Cineclube Roberto Pires
Nenhum comentário:
Postar um comentário